Não é uma confissão suicida, que fique logo claro, também
não é nada original ou brilhante, sei de minhas limitações literárias, mas
apenas deduções.
Todos os dias penso como estou diferente, não sou mas quem
eu era, aos vinte, e sei que serei diferente do que sou quando os cinquenta me
encontrar.
Acredito assim, que no nossos aniversários celebremos quem
fomos, o que nos tornamos e o que seremos, sem preconceitos ou julgamentos, lembrando
o que nunca mais seremos ou resgatando o que podermos ser melhores, o que nos
faz falta.
Vejo a virgem, a secundarista, a civil, tantas passagens,
mudanças, marcas na alma e na face, sinto como se uma morte, todos os dias ,me
visitasse, deixando a pureza e as vezes a confiança pela estrada trilhada.
Vamos adquirindo algo que os humanos convencionaram a chamar
de experiência. E nessas andanças vamos deixando corpos pelo meio do caminho, e
nos surpreendemos quando os identificamos
como nossos.
As vezes me sinto como em um filme de ficção cientifica, é meu
corpo, com meu histórico, com minhas marcas físicas e espirituais, mas, não
reconheço aquela mulher, que já fofocou, que já mentiu, que já traiu e que
muitas vezes foi vilã.
Procuro a menina, que acreditava em final feliz, e me
surpreendo com esta estranha altruísta, capaz de abrir mão de momentos caros
por outros objetivos cujo valor é imensurável. Triste ou feliz, cada morte traz
um motivo, uma (in) satisfação, um querer alcançado ou não.
Reconhecer e conviver, redescobrindo valores, buscando
aperfeiçoamento, sendo forte, quando a única coisa que o corpo almeja é se
entregar ao completo e absoluto cansaço.
Sendo dura quando o vício obriga a pensar que o veneno é o
remédio para o vazio de escolhas
insensatas.
Regredindo ou dominando o destino, morremos todos os dias,
mortes dramáticas, patéticas, doloridas ou aguardadas, sempre sozinho, quando
descobrimos que nem os nossos mais queridos, percebem que estão lidando com uma
perfeita estranha, com uma pessoas que evoluiu ou regrediu, mas que não ficou
estática.
Então amores, não vivemos a cada dia...
Morremos.
E cada minuto, cada segundo, teremos de aprender a conviver
com as mortes definitivas da nossa vida e com o milagre do hoje, pois um dia
seremos encontrados pela Senhora Ceifadora e não sei se confirmaremos a
existência de céu ou inferno.